O que três mulheres coaches, com enorme experiência na área de desenvolvimento de pessoas e carreira executiva em grandes corporações têm a compartilhar com os profissionais de hoje?
Bia Patrício, Cândida Sevilhano e Marici Soares Becherer somam, juntas, mais de 100 anos apoiando pessoas a evoluírem como profissionais – a aperfeiçoarem e adquirirem novas competências; encontrarem uma carreira mais feliz ou um novo caminho. O que elas sabem fazer de melhor é desafiar as pessoas para que superem seus limites e encontrem sua melhor versão. Cofundadoras da LLUM Coaching e Consultoria, Bia, Cândida e Marici revelam, a seguir, suas crenças e esclarecem como o processo de coaching pode despertar o potencial ilimitado em cada profissional que estiver disposto a olhar para dentro de si, encarar seus medos e romper barreiras.
Llum significa luz em catalão e tem tudo a ver com o processo de coaching - quando se acende a luz, é possível enxergar com clareza. No coaching, quem acende a luz é o coachee
POTENCIAL ILIMITADO
Bia: O coaching está muito baseado na física quântica, na questão de energia. Todos temos dentro de nós, ao nascer, tudo aquilo que precisamos para ser quem quisermos, em qualquer contexto. Algumas pessoas se propõem viver isso, outras não. O que o coaching faz é ajudar as pessoas a se conhecerem e romperem algumas barreiras internas que elas mesmo se impõem. A pior limitação é a crença de que não se é capaz, o que faz com que a pessoa nem tente. Ela tem de aprender como se posicionar frente aos obstáculos. O processo de coaching ajuda as pessoas a perceberem que elas têm recursos para fazer isso.
Marici: E, às vezes, a pessoa não sabe qual caminho seguir, e o coaching também ajuda nisso. Por meio do autoconhecimento, a pessoa toma as decisões pelos caminhos claramente conscientes e não pelo acaso.
O COACHING TEM EFEITO SEMPRE?
Bia: Para o coaching ter efeito, a pessoa precisa estar disposta a encarar a mudança. Muitas vezes, eu aprendi um comportamento que me trouxe até aqui e eu tenho uma história de sucesso. Para eu ir para o próximo passo, significa, às vezes, abrir mão de algumas coisas para experimentar outras. Muitas pessoas não têm essa coragem.
Cândida: Em todas as minhas experiências como coach algum efeito há, mas alguns casos são mais efetivos porque a pessoa quer voar e está disposta a correr o risco, outras não. E tem pessoas que desistem.
Marici: Quando a pessoa precisa abandonar algumas coisas para enfrentar o futuro, ela se confronta com seus medos, e isso pode ser muito difícil durante o processo, mas com certeza, ao final, o coachee se sentirá muito feliz.
MEDOS, OUSADIA E DISCIPLINA
Cândida: Ousadia é necessário, eu não diria que ousadia é o oposto de medo, pois sempre existe aquele receio de quebrar a barreira. Então, precisa ter um pouco de ousadia, disponibilidade para o que der e vier. Precisa também ter disciplina para fazer as coisas acontecerem porque o processo de coaching envolve tarefas. Tudo isso a gente explica já no início do trabalho, inclusive a pessoa responde a um questionário básico, que funciona como um compromisso dela com ela mesma e conosco. Quando a gente finaliza o processo, retomamos esse questionário para uma avaliação. O interessante é que, muitas vezes, o coachee se surpreende com o resultado. Então, no início, ele abriu uma porta, as que virão depois, ele ainda não sabe.
Bia: Esse contrato não foi criado por nós, ele é do ICI – Integrated Coaching Institute, o instituto no qual fizemos a formação, e tem perguntas do tipo: Eu estou pronto para investir tempo em mim? Os meus exercícios de coaching farão parte da minha agenda? Estou pronto para fazer o trabalho necessário para o meu desenvolvimento pessoal e profissional? Estou pronto para descartar comportamentos que impedem ou limitam o meu sucesso? Se vem um “não”, a gente questiona. Se há mais de um “não” e a pessoa não está disposta a rever, então, provavelmente, ela não está pronta para o processo.
Marici: Muitos coachees esperam que o coach dê as respostas para ele, e isso não acontece. A pessoa é que encontra as respostas e os seus caminhos, isto é o que chamamos de escolhas conscientes. A gente, como coach, fornece as ferramentas, faz as perguntas provocativas, leva à reflexão, mas quem chega às repostas é a própria pessoa.
O processo de coaching da LLUM é composto, em média, de dez sessões de 80 minutos cada, realizadas quinzenalmente.
COACHING NA PRÁTICA
Bia: Seguimos o protocolo do ICI, que serve como um guia, mas ele não é preditivo porque as pessoas são diferentes. Há pessoas que não precisam de dez sessões, em oito sessões já conseguem atingir sua meta. E tem pessoas que precisam de mais de dez sessões. Existem algumas perguntas que norteiam cada sessão, mas tudo depende também do que o coachee traz sobre o que vivenciou nos quinze dias entre uma sessão e outra. Às vezes, aconteceu alguma coisa tão marcante para ele e é mais importante dedicar a sessão para conversar sobre isso em vez de avançar.
COACHING EXECUTIVO EM EMPRESA
Cândida: Quando a gente começa um processo de coaching numa empresa, temos que conciliar as expectativas da empresa com as do colaborador, então, o processo tem mais um interlocutor. A gente faz um relatório final que é validado, antes, pelo coachee para não ferir a relação de confiança. Muitas empresas usam o processo de coaching como ferramenta para acelerar o desenvolvimento de colaboradores de alto potencial para que assumam, rapidamente, maiores responsabilidades.
Marici: Existe a possibilidade de a primeira reunião ser realizada com a presença do coach, do gestor, do coachee e do representante de recursos humanos. Todos conversam juntos sobre o diagnóstico e o futuro. É um modelo muito mais transparente, pois o coachee tem clareza sobre o que é esperado. Assim, alinham-se expectativas. Depois, o processo é individual e confidencial.
Cândida: Esse modelo também é interessante para a empresa, ele reflete uma gestão mais moderna. Nós três temos a experiência do outro lado da mesa também, pois já contratamos coach. Então, a gente sabe como lidar com isso.
QUANDO FAZER COACHING?
Cândida: É preciso sentir alguma inquietude, mesmo nos casos em que a pessoa chega por meio da empresa. Precisa também ter disciplina e disponibilidade.
Marici: Mesmo quando a pessoa chega por uma demanda da organização, ela precisa querer e entender os benefícios que o coaching vai trazer para ela.
Bia: Pode ser uma inquietude do tipo: quero atingir outros patamares na empresa. Esse interesse de movimentação da pessoa tem que existir, senão o coaching não reverbera, não ecoa.
TODO MUNDO PRECISA DE COACHING?
Bia: Nem todo mundo precisa. Depende do desafio e da inquietude. Se o meu desafio é técnico, o coaching não vai resolver. Às vezes, o que a pessoa precisa naquele momento para crescer é de um conteúdo técnico. Outras vezes, tem necessidade de ampliar o networking e não é o coaching que vai funcionar.
COMO ESCOLHER UM COACH
Cândida: É importante o coachee pesquisar a trajetória do coach e também checar a certificação que ele possui. As pessoas perguntam: onde você trabalhou, quanto tempo tem de experiência... Isso é praxe.
Bia: Além de perguntar para o coach qual a certificação que ele tem, é preciso verificar a seriedade da instituição na qual ele fez a formação, ou seja, quanto tempo está no mercado, quem são seus profissionais... Um outro fator é a questão de pele. É importante sentir afinidade porque a pessoa terá de se abrir, revelar seus medos e suas inseguranças.
Cândida: A pessoa tem direito a uma reunião inicial que não se cobra. Só depois disso é que a gente envia a proposta. Se o coach não fizer isso, ele está errado.
O QUANTO CONTA A VIVÊNCIA DO COACH?
Cândida: A experiência, a trajetória, a nossa história... Tudo isso é um roteiro interno que eu tenho e que me dá repertório, força intelectual, cognitiva e psicológica para lidar com as situações trazidas pelo coachee.
Bia: Não é só o coach que desafia o coachee. O coachee desafia a gente. Ele traz inquietações que nos estimulam a buscar outros conhecimentos para expandir nosso repertório. O coach procura também estimular o coachee a perceber que ele nunca está pronto – a gente nunca está pronto. A vida é uma aprendizagem contínua. Eu tenho que estar me desafiando sempre. Todos nós nascemos com um potencial ilimitado, mas que só se torna real se nos permitirmos viver novas experiências. Então, se desafiar permanentemente é algo que serve para todos, inclusive para o próprio coach.
ERRAR COMO APRENDIZAGEM
Bia: Voltamos a uma pergunta do questionário: estou disposto a investir num novo comportamento mesmo que eu não tenha resultado satisfatório num primeiro momento? Porque, dificilmente, a gente tem sucesso quando estamos experimentando algo novo. Normalmente, cometem-se erros. Eu sempre falo para os coachees que nenhuma criança desiste de andar porque caiu. Ela vai cair várias vezes e vai se levantar várias vezes, e isso faz parte do aprender a andar. É a mesma coisa quando eu estou adquirindo um novo comportamento.
COACHING X TERAPIA
Marici: Tanto o coaching como a terapia ampliam o autoconhecimento. O que difere é que o processo de coaching foca o presente e o futuro. Ele olha para o passado em algumas situações, mas como lições aprendidas e que possam ser resgatadas do passado e trazidas para o agora. Já a terapia resolve situações passadas que impactam o presente.
Bia: O coaching trabalha o aqui e agora para que algo que eu queira no futuro tenha chance de acontecer. A ideia é: o que eu posso plantar hoje para que eu esteja impactando o meu futuro, embora eu não tenha domínio nenhum sobre esse futuro.
Cândida: A terapia, no geral, não estabelece metas, não tem lição de casa e você não tem um plano de desenvolvimento para o futuro. Você pode fazer a vida inteira uma terapia porque você pode cavar o seu passado à vontade. Coaching não é melhor nem pior, ambos são válidos.
DISRUPÇÃO DIGITAL
Bia: Ao se falar em transformação digital, muitas vezes, as pessoas decodificam que a única mudança importante é a tecnológica, e não é. As pessoas continuam sendo a essência de tudo. Como o coaching é um processo de desenvolvimento de pessoas, ele tem um espaço neste momento. Não que ele vá resolver a questão da tecnologia, mas o mundo digital implica, muitas vezes, em revisão de processos dentro das empresas e essa revisão exige algumas competências diferentes das solicitadas até então. Hoje, se fala muito em equipe multidisciplinar, pessoas de diferentes áreas trabalhando juntas para resolver o problema do cliente que está no centro. Quando eu percebo que a transformação digital passa por desenvolvimento de pessoas, o coaching tem um papel muito importante dentro desse novo contexto.
Marici: A era digital requer novas competências, o repensar, o pensar diferente, flexibilidade, agilidade para mudar, trabalho em equipe, colaboração e abertura à diversidade, entre outras. E tudo isso mexe com as pessoas, afinal de contas, o que eu sei fazer de melhor não serve mais? Ou seja, o sucesso que me trouxe aqui, não me levará mais para frente? Além disso, os processos de trabalho e negócios também estão em transformação. O coaching pode ajudar nesses momentos também.
Cândida: Eu diria que o mundo vive uma transformação intensa e isso desorganiza as pessoas e traz um desconforto grande e também muitas inquietudes. Você tem uma quantidade infinita de opções sobre o que fazer. O mercado de trabalho, hoje, não é local, é global! Eu olho para os meus netos de treze e quinze anos e é difícil imaginar como será o mundo deles. Possivelmente, a profissão que eles irão exercer nem exista ainda. Quem será o ser humano daqui 20 ou 30 anos é um mistério, mas que ele esteja, hoje, dotado de todo o potencial possível para ser feliz, essa é uma das missões do coaching.
RESILIÊNCIA
Bia: Neste mundo de disrupção, as competências soft, por exemplo, resiliência, leitura de contexto, empatia e cooperação, passaram a ter um papel fundamental. Hoje, as grandes universidades já estão abrindo no seu currículo espaço para essas matérias, pois para eu lidar com o novo, eu tenho que estar preparado para uma mudança constante. Se eu não trabalho minha resiliência, eu vou querer fazer as coisas como eu sempre fiz. E o coaching pode ajudar no desenvolvimento das soft skills.